Lugar de criança pequena também é na escola

Por UNICEF Brasil

06.11.2023
Lugar de criança pequena também é na escola

Por meio da Busca Ativa Escolar (BAE), o agente comunitário de saúde emitiu o alerta que garantiu a oferta do transporte e o ingresso de Enzo Gonçalves, 4 anos, em um núcleo de educação infantil de seu município

Os olhos atentos do agente comunitário de saúde (ACS) Manoel Messias encontraram o sorriso certo de Enzo Rafael da Silva Gonçalves, então com 4 anos. Em uma visita de rotina à família, em março deste ano, o agente percebeu que Enzo ainda não estava matriculado na escola e ouviu do próprio menino o desejo de iniciar sua vida escolar. Na ocasião, a família morava na Fazenda Santa Helena, área rural do município de Marechal Deodoro, em Alagoas.

A mãe de Enzo, Samara da Silva, 25 anos, tentou matricular o filho pela primeira vez quando ele ainda tinha 3 anos. Mas encontrou um obstáculo na distância entre sua casa e o núcleo de educação infantil mais próximo. “Não me senti segura de deixar ele ir sozinho, com 3 anos, no ônibus escolar. Ainda sugeriram que eu poderia ir com ele, mas eu não tinha como ficar o tempo todo lá, esperando na escola”, conta, lembrando que estava grávida na época.

O tempo foi passando. Enzo já tinha 4 anos e meio quando Manoel fez sua visita de rotina à família como agente comunitário de saúde, participante da estratégia pela Secretaria Municipal de Saúde, que, junto com as Secretarias de Educação e de Assistência Social, compõe a equipe de Busca Ativa Escolar (BAE) de Marechal Deodoro. Dessa vez, com os olhos treinados pelas capacitações da BAE, o profissional logo identificou que Enzo estava fora da escola e criou o alerta na plataforma da estratégia. Na sequência, a supervisora da BAE pela Secretaria de Educação fez uma visita à família, conversou com a mãe sobre a importância do ingresso de Enzo na escola e o compromisso do município com a oferta e a segurança do transporte das crianças.

De forma simultânea, outros membros da equipe da Busca Ativa Escolar ajudaram a família a reunir a documentação necessária, recolhendo até a certidão de nascimento que estava em um município próximo, e retornaram para levar a mãe até a escola, no próprio carro da estratégia, para concluir a matrícula. No dia seguinte, Enzo já foi saltitando ao encontro do ônibus escolar e, com o apoio de um fiscal, chegou ao núcleo de educação infantil Sonho Feliz para o seu primeiro dia de aula. A professora Rafaela dos Santos Souza conta que o menino chegou tímido, mas rapidamente se adaptou ao grupo.

Frequentando a escola há sete meses, Enzo já apresenta avanços no seu desenvolvimento, observados por sua mãe. “Eu tentava ensinar em casa, mas era mais difícil. E me preocupava com o que ele seria mais na frente, porque fora da escola a criança aprende o que não deve, né? E na escola ele brincaria, se desenvolveria mais. Agora, ele é uma criança mais alegre e esperta. Já sabe fazer o nome dele”, conta Samara. Ao longo deste ano, a família se mudou para a área urbana e Samara já confirma que, assim que fizer 3 anos, a irmã de Enzo, Sofia, que tem 9 meses, também irá para a creche.

Responsabilidade coletiva – Para o agente comunitário de saúde, a adesão do município à estratégia da Busca Ativa Escolar, disponibilizada pelo UNICEF e pela Undime, foi fundamental para o compartilhamento de responsabilidades. “Antes da BAE, a sensação tanto do agente quanto da família era de que estávamos denunciando a família. Agora, a BAE demonstra que o fato de a criança estar fora da sala de aula tem outros responsáveis. Com a plataforma, eles vão ser acionados para uma resposta positiva”, destaca, informando que a estratégia permite que o agente identifique, a equipe verifique e procure compreender o motivo, dividindo a responsabilidade e a busca por soluções com todas as secretarias participantes, como Educação, Saúde e Assistência Social.

A coordenadora operacional da BAE em Marechal Deodoro, Jucineia da Silva Santos, reforça que a equipe mantém também um olhar especial para as crianças na primeira infância. “Temos dado ênfase para que as famílias tenham entendimento sobre a importância do desenvolvimento na educação infantil. Não buscamos apenas adolescentes e jovens, mas também crianças a partir dos 3 anos. As crianças precisam ter esse acesso para desenvolver todo esse potencial”, destaca.

Segundo Jucineia, outro diferencial que chegou com a Busca Ativa Escolar foi a percepção mais ampla de frequência e de permanência na escola. “A adesão à BAE trouxe um avanço muito maior. Nós já fazíamos o monitoramento da frequência escolar, mas agora temos uma visão mais ampla. Passamos a ter pessoas dentro da escola atentas a isso e uma preocupação durante todo o ano, além de garantir o aprendizado”, descreve.

Busca por cada criança – O sentimento de gratidão parece ser unânime entre as equipes que participam da Busca Ativa Escolar. O agente comunitário de saúde ressalta que, além de facilitar o trabalho, a plataforma empolga. “Pode ser fácil deixar a criança em casa quando os responsáveis estão sozinhos no problema. Mas, quando a responsabilidade é dividida, o trabalho fica mais fácil e é gratificante. Ver sorrisos como o de Enzo estando na escola nos anima a cair em campo. Antes eu não via tanta relação entre um ACS e a educação, agora é uma coisa só. É a mesma criança”, ressalta.

Para a coordenadora da BAE, os alertas da plataforma são recebidos com emoção. “Sempre que estou em contato com as equipes me emociono, porque não estamos apenas respondendo a um alerta, mas estamos indo buscar um serzinho. O trabalho é árduo, mas muito gratificante”, afirma. E Enzo, que saiu da Fazenda Esperança e chegou ao NEI Sonho Feliz, abre um sorriso quando fala sobre a escola, listando como o que ele sonhava, agora, virou rotina, seja brincando ou estudando com os colegas.

Sobre a Busca Ativa Escolar

A Busca Ativa Escolar é uma estratégia composta por uma metodologia social e uma plataforma tecnológica disponibilizada gratuitamente para estados e municípios. A metodologia apoia para identificar crianças e adolescentes fora da escola ou em risco de abandono, os motivos que os levaram a essa situação, seu atendimento pelos serviços da rede de proteção e sua (re)matrícula e permanência na escola. A plataforma apoia para o registro dos dados de cada caso que está sendo acompanhado, para facilitar o diálogo intersetorial e para o monitoramento e a avaliação de dados e de evidências, ajudando na melhor tomada de decisões por parte da gestão pública.

A Busca Ativa Escolar é uma iniciativa do UNICEF e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com apoio do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Para a Busca Ativa Escolar, o UNICEF conta com os parceiros estratégicos B3 Social, BRK Ambiental, EDP, Grupo Profarma, Itaú Social, NEOOH, e com o parceiro Bracell.

*Fonte: UNICEF Brasil 

*Foto: UNICEF/BRZ/Marina Domar