Paixão pela Busca Ativa Escolar

Por Comunicação

13.05.2025 | Atualizado: 13.05.2025
Paixão pela Busca Ativa Escolar

Em São Vicente Férrer (MA), a gestão municipal implementou a estratégia de olho no Selo UNICEF, mas o que pareceria ser a busca por um reconhecimento se tornou uma vocação para transformar vidas e reduzir a evasão escolar; na foto, equipe da Secretaria Municipal de Educação que se dedica à BAE

“Cada falta [na escola] faz diferença no aprendizado da criança. Então, o nosso trabalho é de busca ativa mesmo: temos ido às escolas para poder identificar essas demandas”, conta Rosyléia Pacheco, técnica verificadora da Busca Ativa Escolar (BAE) em São Vicente Férrer, no Maranhão (MA). “Estamos também conscientizando as gestões escolares, que muitas vezes não consideravam [como ponto de atenção] aquelas faltas de dois ou três dias consecutivos. Com as visitas às escolas, cada vez mais, alertam a equipe municipal da estratégia para esses casos”, acrescenta.

Com cerca de 20 mil habitantes, o município fica na Baixada Ocidental Maranhense, localizada a 275 quilômetros de São Luís, capital do estado. A região se caracteriza pela presença de campos baixos que alagam na estação das chuvas, formando enormes lagoas entre os meses de janeiro e julho.

“Enfrentamos estradas de terra e de lama. Às vezes, o carro não consegue chegar até lá, e nós vamos a pé. Pegamos chuva e sol, mas sempre buscando alcançar o propósito que estabelecemos antes de sair (da sede)”, relata Hogla Silva Santos, gestora política da estratégia na cidade maranhense. “Outro dia, havia um caminhão atolado no trajeto, e precisamos deixar o carro e ir caminhando debaixo de chuva mesmo. Conseguimos chegar até a casa da adolescente e fazer o atendimento. É um trabalho que tem dado certo, ultrapassando as metas”, diz ainda.  

A maioria dos habitantes de São Vicente de Férrer recebe apenas um salário mínimo mensal ou menos. A principal atividade econômica é a criação de gado, complementada pelas lavouras de mandioca, arroz e milho. 

“Em algumas situações, o que realizamos é além do que é pedido, vamos além do que seria o trabalho. Ultrapassa porque entendemos que precisamos atender aquela criança em toda a sua extensão”, destaca Rosyléia Pacheco

O  município de São Vicente Férrer fez a primeira adesão à estratégia Busca Ativa Escolar em 2017, tendo em vista a sua participação Selo UNICEF, iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) que visa estimular e reconhecer avanços reais e positivos na promoção, realização e garantia dos direitos de crianças e adolescentes em municípios do Semiárido e da Amazônia Legal brasileira. A implementação da estratégia e o alcance das metas de (re)matrículas faz parte de um dos resultados obrigatórios para os municípios conquistarem o Selo UNICEF.

No primeiro momento, os resultados do município maranhense não foram positivos. A equipe se preparou, estudou a estratégia e, a partir de 2020, passou a fazer a BAE para valer, conseguindo conquistar o Selo UNICEF e ultrapassar as metas pactuadas.

“A gente se apaixonou tanto pelo projeto que não esperamos a demanda, o pedido vir do Selo UNICEF. Fomos um dos primeiros municípios a fazer logo a readesão, até porque o nosso trabalho não parou nem mesmo no recesso de fim de ano”, conta Daweson dos Santos Araújo, coordenador operacional da BAE no município maranhense de São Vicente Férrer.

No período de férias, a equipe da BAE estava mobilizando os responsáveis, incentivando que matriculassem ou rematriculassem seus filhos e filhas na escola. A ideia era já começar o ano letivo colhendo os frutos desse trabalho de conscientização. 

“Entramos em contato com as famílias das crianças e adolescentes para não deixar o desinteresse pelos estudos crescer. É comum, especialmente, entre os adolescentes, que os alunos e alunas retidos fiquem desestimulados a voltar para a sala de aula no ano seguinte. Então, aproveitamos este momento para ficar de olho em quem e por que reprovou, e fazer este acompanhamento de perto para não perdermos nenhum estudante”, explica o coordenador operacional.




Visitas domiciliares realizadas pela equipe municipal da BAE


Intersetorialidade

Ainda buscando conquistar o Selo, os gestores municipais de São Vicente Férrer também aderiram a outra estratégia do UNICEF: a Busca Ativa Vacinal, que apoia os municípios na garantia da imunização de crianças menores de 5 anos, também por meio de uma metodologia e uma ferramenta tecnológica que facilita a identificação de meninos e meninas com atraso vacinal ou não vacinados. No entanto, a maior conquista foi o estabelecimento e a manutenção de uma rede intersetorial de proteção e de garantia de direitos de crianças e adolescentes.

“Também criamos uma rede intersetorial de acompanhamento e encaminhamento dessas crianças e adolescentes que estavam fora da escola em área de vulnerabilidade social. Fomos encaminhando essas pessoas para os serviços públicos, como o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Se era gravidez na adolescência, já encaminhávamos para o outro setor da Assistência, o Criança Feliz, e a gente foi mantendo essa rede de parceria e assim conquistamos o Selo UNICEF”, explica Daweson Araújo.

“Sem contar também a reaproximação entre as secretarias, escolas, comunidade e famílias que a gente estabeleceu. As famílias estão, cada dia mais, presentes na escola, assim como nós da equipe da Busca Ativa, entre outros setores do Município, estamos mais presentes na comunidade. A cada visita, identificamos demandas que são levadas para a Administração Pública, fazendo essa ponte e, muitas vezes, já levando soluções [para a população]”, acrescenta o coordenador operacional. 

Vários órgãos municipais têm acesso à plataforma da Busca Ativa Escolar, onde são acionados sempre que a demanda tem a ver com aquela área. Estão cadastrados na plataforma profissionais das secretarias de Assistência Social, Educação, Esporte e Saúde, o Conselho Tutelar, o Fórum da Juventude, entre outros.

Em 2025, o município recebeu o Prêmio Selo Nacional Compromisso com a Alfabetização, do Governo Federal. A premiação reconheceu os esforços de 4.187 municípios para assegurar a alfabetização das crianças. Outro reconhecimento do qual os gestores municipais têm orgulho, a cidade foi considerada duas vezes como referência regional do programa federal Saúde na Escola.

“Se a criança está com algum problema de saúde, isso afetará seu rendimento e frequência. Por meio do Saúde da Escola e junto com a Secretaria Municipal de Saúde, realizamos ações de conscientização com relação à alimentação saudável e saúde bucal, trazendo as famílias para dentro da escola, e realizamos outras iniciativas, como a antropometria. Tudo isso favorece para que a criança esteja saudável e não se ausente da sala de aula”, pondera Hogla Santos.


Atividades de reforço escolar que a equipe municipal leva até a casa de estudantes



Motivos para a evasão

A rede municipal de ensino de São Vicente Férrer possui 47 escolas, que atendem aproximadamente 4 mil alunos de 3 a 17 anos. Rosyléia Pacheco, técnica verificadora da BAE, relata que a distorção idade-série é um fator que contribui para a ocorrência de casos de abandono e evasão escolar e funciona como uma alerta para a pasta da educação, no sentido de ter estratégias para garantir o aprendizado  dos estudantes. A pandemia da COVID 19, entre 2020 e 2023, intensificou o problema, uma vez que as escolas tiveram que adotar várias medidas de distanciamento social, como as aulas online. 

“Muitos meninos e meninas quando tiveram que voltar para a sala de aula não conseguiam acompanhar o conteúdo, e isso os desestimulava muito. Temos encontrado muita criança e adolescente fora da escola por conta da dificuldade de apreender o conhecimento”, acrescenta Rosyléia Pacheco.

Ao identificar a dificuldade de aprendizagem, a Secretária Municipal de Educação criou um reforço escolar domiciliar, especialmente para alunos e alunas em fase de alfabetização. À equipe municipal da Busca Ativa Escolar cabe, muitas vezes, levar atividades para essas crianças desenvolverem e fixarem o seu conhecimento. São tarefas lúdicas e divertidas como quebra-cabeça de sílabas e desenhos, tornando o processo de aprendizagem mais leve e atrativo.

“O município tem uma prática de reforço a domicílio. Sempre que há a necessidade de recompor a aprendizagem, de acordo com a necessidade da criança e do adolescente, a equipe da BAE planeja qual atividade levar”, detalha Daweson Araújo. “Por meio do quebra-cabeça, aprendem as sílabas e a formar palavras, e assim conseguem desenvolver o aprendizado e fazer uma alfabetização adequada”, afirma. 

Casos de crianças com deficiência e fora da escola também têm sido recorrentes no município. A equipe da BAE tem feito um apoio consistente e interdisciplinar dessas meninas e meninos, encaminhando, por exemplo, para atendimento médico e psicológico, a fim de buscar diagnóstico e obter orientações para adaptar sala de aula e conteúdo para esses alunos e alunas, garantindo que permaneçam na sala de aula.

Com informações do IBGE e do Wikipedia.
Fotos: SME de São Vicente Férrer