Debatedores apontam aumento das desigualdades no ensino
Com a pandemia, as desigualdades do ensino no Brasil ficaram mais evidentes. Esse foi o principal ponto do debate promovido pela Comissão Senado do Futuro (CSF) na última sexta-feira (5). O presidente do colegiado e autor do requerimento para a audiência pública, senador Izalci Lucas (PSDB-DF), disse que a educação já apresentava deficiências em "tempos normais", sendo preocupante o agravamento desse quadro durante a crise sanitária. Um exemplo apontado foi a dificuldade de acesso de muitos alunos às tecnologias para aulas em caráter remoto. Ao criticar a ausência de atuação efetiva do poder público na área, o parlamentar comentou que há muita diferença entre discurso e prática e ressaltou que "falta de investimento em educação mata uma geração inteira".
— Boa parte dos governantes só pensa na próxima eleição. Como educação não aparece nas pesquisas, fica em escanteio. A crise trouxe luz, demonstrando claramente o aumento das desigualdades e, de fato, no Brasil, comunidades carentes têm muita dificuldade, principalmente no século 21. Na prática, quem decide as coisas só faz discurso e não dá prioridade. Com a pandemia, a situação ficou ainda mais caótica, e o objetivo da nossa reunião é justamente ajudar a amenizar esse problema — disse Izalci.
Pedagogia apropriada
Educação inclusiva, sem diferenciação para os mais pobres, é um alvo fundamental, na opinião da diretora-geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudia Maria Costin. Além disso, para a especialista, é importante que as escolas se atenham ao aprendizado do que é essencial para crianças e jovens em cada etapa. E que os que ficaram para trás no ensino tenham direito de retomar o teor, tendo a chance de resgatar conteúdos perdidos.
— É preciso que a desigualdade educacional, já tão grande, não aumente mais ainda. Uma escola não excludente e que não torne alunos invisíveis, escolas em turno único e professores com dedicação exclusiva a uma única escola, gestor escolar como responsável por uma cultura de colaboração tanto no planejamento e aprendizagem profissional em toda unidade.
De acordo com Cláudia Costin, 54,73% dos estudantes acima dos 8 anos estão em níveis insuficientes de leitura. Somente 10,8% dos jovens do 3º ano do Ensino Médio aprenderam o suficiente em Matemática e, 37,1%, em Português, conforme pesquisas de 2019. Metade dos jovens brasileiros de 15 anos não têm nível básico de proficiência em leitura, conforme dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2018 apresentados pela especialista.
Cláudia Costin apontou, no entanto, que nem todas as notícias são ruins. Segundo ela, a educação no Brasil também apresenta dados positivos que trazem a sensação de "copo meio-cheio". Um exemplo dado pela palestrante é o fato de que, em 2019, 69% dos jovens de 19 anos tinham concluído os estudos, numa evolução, comparando-se a 2012, quando essa taxa foi de 52%.
Atividades remotas
O secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, Mauro Luiz Rabelo, apresentou ações do Executivo como gestões junto à Fundação Nacional do Índio (Funai) e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para aprovação de 17 projetos de reforma e construção de escolas indígenas e a criação de formação de gestores escolares para acolhimento de imigrantes e refugiados. Mauro disse que a pandemia de coronavírus obrigou o país a "lidar com o desconhecido" e, o governo, a tomar decisões rápidas, tanto na saúde como na educação. Ele também afirmou que o debate sobre novas tecnologias de ensino encontrou resistências no âmbito acadêmico. Mas, segundo afirmou, todas as divergência têm sido resolvidas.
— Posso dizer isso, inclusive, em referência ao meio em que atuo, o universitário. Alguns colegas já reconhecem como possível potencializarmos ao máximo esse uso das atividades remotas, de modo a acelerar, ajudar e trazer luz para o trabalho dos professores e agilizar o aprendizado dos estudantes.
Ações inteligentes
A valorização da carreira dos profissionais da educação, com carreira e formação, e avaliações periódicas do ensino estão entre os principais desafios para a educação pública apontados pelo presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Luiz Miguel Martins Garcia. Para ele, a pandemia trouxe um momento difícil, que requer ações inteligentes e corretas de especialistas e autoridades. E, caso essas medidas deixem de ser discutidas e efetivadas, o debatedor ponderou que o país pode perder o potencial de transformação do aprendizado proporcionado pelo pós crise.
— As lacunas são reais e angustiam. A Undime se manteve atuante na pandemia, participando ativamente desse processo, e é isso que precisamos continuar fazendo: construir conjuntamente. E eu quero saudar o senador Izalci Lucas por todo esse momento que temos vivido juntos, por seu trabalho junto às temáticas da educação, sua coragem e disposição em dialogar. É muito confortante para nós termos uma liderança como o senhor levando essa pauta — avaliou.
Fonte: Agência Senado
Foto: Pedro França/Agência Brasil
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