A escola encontrou e acolheu Pedro
Pedro Gabriel foi encontrado pela Busca Ativa Escolar em 2018, e conseguiu manter o vínculo com a escola mesmo na pandemia
A história de Pedro Gabriel é de muita superação. O adolescente de 16 anos foi adotado pela mãe aos 7 anos, e tentou várias vezes ir à escola. A mãe procurou escolas para que o menino pudesse se integrar, mas sempre teve dificuldades. Pedro possui déficit de aprendizagem, além de autismo e bipolaridade. Ele passou por escolas particulares e públicas, mas não conseguia se adaptar. Tudo isso resultou em que o menino acabasse ficando fora da escola.
“Aí a Busca Ativa encontrou ele aqui e levou para a [Escola Municipal] Rubem Amorim Araújo,” relembra a mãe, Nélia Martins. Depois de um ano sem estudar, a equipe da Busca Ativa Escolar de Petrolina, município em Pernambuco onde mora a família, bateu à porta do menino, e adotou como missão buscar uma escola onde Pedro teria atendimento especial, e ele foi rematriculado.
De cara, o menino se adaptou. A escola, que vai da educação infantil ao ensino fundamental I, recebeu Pedro há três anos, e ele pôde começar a cursar o terceiro ano. Aos poucos, ele foi aprendendo as letras, os números, e acompanhando, no seu ritmo, os assuntos na sala de aula. A professora de Atendimento Educacional Especializado (AEE) Rosário Martins acompanha o menino desde que chegou à escola. Toda semana, eles tinham um encontro marcado para realizar atividades também fora da sala. “Na escola ele fazia as atividades todas adaptadas, a professora dava apoio e ele tinha um auxiliar. Eu o atendia uma vez por semana, também acompanhava no recreio”, explica a educadora. Assim como ele, cerca de 30 estudantes da escola são atendidos pelo AEE.
Pedro Gabriel passou a amar a escola. “Ele é um dos alunos mais apaixonantes, porque ele é muito carinhoso, ele ama a escola”, diz Rosário. Depois de três anos estudando, uma nova mudança na rotina chegou para desafiar Pedro, e tantos estudantes e professores: a pandemia da Covid-19.
Agora, Pedro já está no quinto ano, mas com as aulas online, o menino não conseguiu participar integralmente das atividades da sua turma. Mas isso não foi motivo para que perdesse o vínculo com a escola. Durante este período, a professora Rosário tem se dedicado para que ele tenha aulas online uma vez na semana, e tenha acesso ao caderno de atividades durante o mês inteiro. Além disso, o contato com a mãe de Pedro tem sido mais frequente ainda. “Ela manda as tarefas, eu pego na escola, há provas. Na aula de hoje, por exemplo, ela mandou fazer um jogo, e mandar as fotos para ver o que ele aprendeu”, explica Nélia.
“Nós trabalhamos de diversas formas, histórias, vídeos, sempre faço atividades online pra ver o nível de aprendizagem, brincadeiras, por uma chamada no WhatsApp”, completa Rosário. No começo de cada mês, a professora também prepara uma apostila de atividades especializadas para Pedro, de acordo com suas necessidades de aprendizagem, e entrega de forma impressa para ser feitas em casa.
Assim, Pedro tem conseguido se manter aprendendo. Outras dificuldades como a própria conexão à internet, ou dias em que o menino se sente melhor para fazer as chamadas com a professora, têm sido pouco a pouco superadas durante o tempo de ensino remoto. Para Rosário, investir na educação do menino, ajudá-lo a seguir aprendendo e se desenvolvendo é um trabalho essencial e, claro, gratificante. “Vale a pena a gente investir na educação, porque é a base de tudo, e principalmente trabalhar com amor”, diz Rosário.
Depois de ter passado por tantas dificuldades para manter o filho aprendendo, Nélia também se sente feliz por ele ter sido encontrado pela Busca Ativa e conseguido uma escola para o menino. “O pessoal é muito gente boa, fui muito bem acolhida. As professoras sempre ligam pra saber como ele está, conversam um pouco com ele, dão uma assistência muito boa. Fiquei muito feliz com elas, eu nunca esperava por isso”, diz a mãe. “Ele graças a Deus agora está melhor, depois de ter passado por muitas dificuldades. A escola ajudou muito. Nunca tive problema, e estamos aqui nessa luta. Vivendo um dia de cada vez”, completa Nélia.
“Quando fomos visitar a escola e vimos o interesse dele, eu acreditei que a gente tinha potencial pra fazer diferenças significativas na vida das pessoas que mais precisam”, relembra a coordenadora de Busca Ativa Escolar no município, Nara Itla. “É como se a gente tivesse trazido Pedro Gabriel para a vida de novo”, completa, emocionada.
Com a pandemia, a equipe também precisou se readaptar para chegar até cada criança e adolescente fora da escola. Antes, as buscas de estudantes envolviam a visita à casa das famílias, mas agora os telefonemas e mensagens fazem parte da rotina. O trabalho na pandemia foi feito atualizando os cadastros de estudantes que já estavam matriculados na plataforma, realizando o contato com as familias, e identificando aqueles que estavam de fora principalmente por meio da distribuição dos kits pedagógicos disponibilizados pelas escolas. Os estudantes que não buscavam os kits tiveram um acompanhamento da equipe para prevenir a evasão e manter o vínculo dos meninos e meninas de Petrolina com a escola.
Os desafios são muitos, e a situação de muitos estudantes foi agravada pela pandemia. Mas Nara acredita que a Busca Ativa Escolar é uma das grandes ferramentas para promover o direito à educação no seu município. “Enquanto a gente não vir esses meninos identificados, com uma visão mais de perto deles, eu não fico satisfeita!”, conclui.
Fonte: UNICEF Brasil
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