UNICEF recomenda políticas de Busca Ativa Escolar para reduzir a evasão de estudantes do ensino médio
Quatro a cada 10 estudantes no Ensino Médio pensaram em parar de estudar em 2022. Este é um dos dados apontados pelo relatório “Jovens e Ensino Médio”, lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Rede de Conhecimento Social, no último dia 10. O UNICEF recomenda, entre outras ações, "Implantar com urgência políticas de busca ativa escolar e retomada da aprendizagem".
A pesquisa que aborda o ensino médio foi lançada juntamente com outro documento sobre Jovens com Contrato de Aprendizagem. Juntos, os dois levantamentos ouviram mais de 16 mil adolescentes e jovens para entender os impactos, os hábitos adquiridos e as prioridades para a saúde, educação, trabalho e renda.
De acordo com os estudos, as dificuldades enfrentadas pelas juventudes brasileiras, pós pandemia, passam por diversas áreas que vão da qualidade da educação, perda de aprendizagem na pandemia, transição para o mundo do trabalho, até o acesso à internet e saúde mental.
Para reverter esse cenário, é fundamental priorizar políticas públicas com recursos suficientes voltados aos adolescentes e jovens no País. “Adolescentes e jovens afetados pela perda de renda, empobrecimento e exclusão social estão mais pressionados a abandonar a escola em busca de trabalho, mesmo que informal e inadequado. Em muitos casos, somente a possibilidade de conciliar escola e trabalho lhes garante uma ponte para atravessar a situação de pobreza e assegurar seu desenvolvimento integral. Sem isso, o Brasil pode perder toda uma geração de adolescentes e jovens e seu potencial para transformar o País”, afirma Mário Volpi, chefe de Desenvolvimento e Participação de Adolescentes do UNICEF no Brasil.
O UNICEF recomenda:
- Priorizar investimentos em políticas sociais;
- Ampliar a oferta de serviços e benefícios aos(às) adolescentes mais vulneráveis;
- Fortalecer o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente;
- Implantar com urgência políticas de busca ativa escolar e retomada da aprendizagem;
- Implementar formas de identificar precocemente as famílias vulneráveis a violências;
- Promover e fortalecer oportunidades no ambiente escolar e na transição de adolescentes para o mercado de trabalho;
- Ouvir adolescentes e jovens que querem se engajar, ter participação na política e na sociedade.
Confira, abaixo, os principais resultados da pesquisa:
Qualidade do ensino
De acordo com o relatório de “Jovens e Ensino Médio”, 7 a cada 10 estudantes do ensino médio sentem que ficaram para trás em seu aprendizado por causa da pandemia; 4 a cada 10 estudantes no Ensino Médio pensaram em parar de estudar em 2022; 1 a cada 10 continuavam pensando em deixar a escola; 4 a cada 10 estão pessimistas em relação à conexão da educação com o mundo do trabalho; 32% dos estudantes estão pessimistas em relação ao seu desenvolvimento nos estudos; 67% dos estudantes de ensino médio acreditam que as pessoas entenderam que há várias formas de aprender; 68% usam tecnologias para estudar, indo além das atividades que estava acostumado(a) e 82% pretendem continuar estudando depois de concluírem o ensino médio.
“Há, no Brasil, uma naturalização do fracasso escolar, fazendo com que por vezes ou parte da sociedade aceite que um perfil específico de estudante – em sua maioria meninas e meninos negros e indígenas, e estudantes com deficiência, vindos de famílias de renda mais baixa – passe pela escola sem aprender, sendo reprovado diversas vezes até desistir. Por isso, a recuperação de aprendizagens é fundamental para o enfrentamento dessas desigualdades ampliadas pela Pandemia da Covid 19 e para viabilizar que esses adolescentes e jovens desenvolvam competências e habilidades, para se situar no mundo, fazer suas escolhas, aprender, e ter uma transição positiva para o mercado de trabalho. É fundamental dialogar com as famílias e os estudantes para entender que há um conjunto de aprendizagens que precisam ser garantidas, entre elas, as habilidades digitais”, diz Mônica Dias Pinto, chefe de Educação do UNICEF no Brasil.
Saúde mental e autocuidado
De acordo com o relatório de “Jovens e Ensino Médio”, diversas condições de saúde foram impactadas pela pandemia: a alimentação e condicionamento físico são avaliados de forma crítica por 4 a cada 10 estudantes; o estado emocional e a qualidade do sono são vistos como regulares ou péssimas por quase 6 a cada 10 deles; 9 a cada 10 estudantes do ensino médio relatam ter sentido alguma condição de saúde por conta da pandemia, sendo que as principais são ansiedade, uso exagerado de redes sociais e exaustão, sem variações entre jovens da rede pública ou privada. Jovens LGBTQIAPN+ e mulheres são os que mais indicaram ter passado por algum tipo de impacto de saúde no período; 3 a cada 10 estudantes possuem como principal preocupação agravar ou desenvolver problemas de saúde física ou emocional; 4 a cada 10 estudantes estão pessimistas quanto à qualidade da saúde pública e 4 a cada 10 estudantes consideram que atividades físicas podem ser aliadas no cuidado da saúde mental.
"A saúde mental e a saúde física estão profundamente interligadas. Não podemos continuar a ver a saúde mental como algo secundário, e sim como um investimento urgente e necessário para crianças e adolescentes em todos os setores, não apenas na saúde, para apoiar uma abordagem intersetorial, incluindo toda a sociedade para prevenção, promoção e cuidados. Com o retorno à vida presencial, as demandas começaram a mudar de perfil, com um aumento de situações de vulnerabilidade social diversas como fator de impacto negativo sobre a saúde mental dos adolescentes e jovens", explica Mário Volpi.
Perspectivas para o trabalho
De acordo com o “Relatório Jovens com Contrato de Aprendizagem”, na vida de muitos adolescentes e jovens, a permanência na escola se soma à importância de ter uma inclusão positiva no mundo do trabalho. O relatório revela que 75% de aprendizes estão otimistas com as condições de trabalho para jovens; 32% dos aprendizes possuem como principal preocupação passar por dificuldade financeira; 17% possuem como preocupação não conseguir um trabalho ou não permanecer trabalhando; 26% dos jovens trazem contribuições financeiras para o domicílio, especialmente aqueles de escola pública e 79% dos aprendizes acham que as pessoas aprenderam a usar mais ferramentas digitais para trabalhar coletivamente.
O estudo ainda aponta ações prioritárias para instituições públicas e privadas ajudarem os jovens a lidar com efeitos da pandemia no trabalho,.45% dizem ser importante atendimento psicológico na saúde pública especializado em jovens e 38% relatam a importância do acompanhamento psicológico nas escolas.
“O Brasil conta hoje com a maior geração de jovens de sua história: são mais de 47 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. É urgente ofertar oportunidades para que cada um deles possa realizar seus projetos de vida e assim também possamos alavancar o país social e economicamente. A Aprendizagem é uma porta de entrada fundamental para que nossos adolescentes e jovens possam acessar o mundo do trabalho de forma protegida e tendo seu direito à Educação garantido”, afirma Gustavo Heidrich, oficial de Programas do UNICEF e coordenador da iniciativa Um Milhão de Oportunidades (1MiO), liderada pelo Fundo.
Sobre a Pesquisa
O “Relatório especial Jovens no Ensino Médio” e o “Relatório Jovens com Contrato de Aprendizagem” foram realizados pelo UNICEF e pela Rede de Conhecimento Social. Eles são parte da pesquisa Juventudes e a Pandemia: E Agora, de Atlas das Juventudes, Rede Conhecimento Social, UNICEF, CONJUVE, Fundação Roberto Marinho, Itaú Educação e Trabalho, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Em Movimento, Visão Mundial, Mapa Educação e Porvir.
* Fonte: UNICEF