Retomada da aprendizagem é urgente e setor privado tem muito a contribuir, afirmam B3 Social e UNICEF
O analfabetismo dobrou no Brasil entre 2020 e 2022. Após três anos de pandemia, o Brasil está diante do grande desafio de recompor as aprendizagens, e é fundamental um esforço de país, unindo diferentes áreas. Foi esse o tema do evento “EducAÇÃO: panorama, perspectivas e investimento social privado”, organizado pela B3 Social, responsável pela atuação social da B3, a Bolsa do Brasil e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), realizado nesta quinta-feira, 11 de maio, em São Paulo. O evento reuniu lideranças empresariais, institutos e fundações para refletir sobre o cenário da educação brasileira e discutir a importância da participação do setor privado em investimentos que promovam políticas públicas nessa área.
“Sabemos que o desafio na educação é grande, considerando o número de crianças e adolescentes que estão fora da escola e tantos outros em situação de defasagem de aprendizado. Como Bolsa do Brasil, assumimos o papel de colaborar intencionalmente para mudar o cenário de desigualdades na Educação, fortalecendo os atores desse ecossistema, observando questões de qualidade, gênero e equidade racial, tudo permeado com critérios baseados em dados e evidências. Para avançarmos nesse cenário, um dos caminhos possíveis e mais potentes é a união das forças de setores públicos, privados, terceiro setor e sociedade civil”, disse Elizabeth Mac Nicol, superintendente da B3 Social.
“A exclusão e o fracasso escolar afetam a vida de milhares de crianças e adolescentes no Brasil e no mundo. O Brasil vinha avançando, de forma lenta, na garantia do direito à Educação. E a pandemia agravou esse cenário, colocando o País diante de uma crise urgente de exclusão escolar e dificuldades de aprender. A boa notícia é que o País tem um sistema de Educação forte, com capacidade de reverter essa crise, e isso pode ser feito por meio de um esforço intersetorial, reunido União, estados, municípios, sociedade civil e setor privado. Por isso, a importância deste encontro”, falou Youssouf Abdel-Jelil, representante do UNICEF Brasil, na abertura do evento.
Evidências sobre o cenário da Educação no Brasil
O encontro foi dividido em três painéis. O primeiro deles trouxe o cenário da Educação no País. No Brasil, ao menos 32 milhões de meninas e meninos (63% do total) vivem na pobreza, em suas múltiplas dimensões: renda, educação, trabalho infantil, moradia, água, saneamento e informação. A informação foi apresentada no evento por Liliana Chopitea, chefe de Políticas Sociais, Monitoramento e Avaliação do UNICEF no Brasil, e faz parte da pesquisa "As Múltiplas Dimensões da Pobreza na Infância e na Adolescência no Brasil", lançada pelo UNICEF em janeiro.
A pobreza na infância e na adolescência vai além da renda. “Estar fora da escola, viver em moradias precárias, não ter acesso a água e saneamento, não ter uma alimentação adequada, estar em trabalho infantil e não ter acesso à informação são privações que fazem com que crianças e adolescentes estejam na pobreza multidimensional”, explicou Liliana Chopitea. “Na maioria das vezes, essas privações se sobrepõem, agravando os desafios enfrentados por meninas e meninos. Por isso, é urgente o Brasil olhar para a pobreza de forma ampla, e colocar a infância e a adolescência no orçamento e no centro das políticas públicas”, defendeu.
A educação é um dos pilares essenciais nesse cenário. Se, antes da pandemia, o País vinha apresentando pequenos avanços no acesso a esse direito, com a pandemia, o cenário se inverteu. Outro estudo do UNICEF apresentado no evento por Rosi Rosendo, do Ipec, revelou que 2 milhões de meninas e meninos de 11 a 19 anos que ainda não haviam terminado a educação básica deixaram a escola no Brasil. O que tem impactos grandes na trajetória escolar de cada criança e adolescente.
“O País está diante de uma crise urgente na Educação. Há cerca de 2 milhões de meninas e meninos fora da escola, somente na faixa etária de 11 a 19 anos. Se incluirmos as crianças de 4 a 10 anos, o número certamente é ainda maior. E a eles se somam outros milhões que estão na escola, sem aprender, em risco de evadir. É urgente investir na inclusão escolar e na recuperação da aprendizagem. É fundamental dialogar com as famílias e os estudantes para entender que há um conjunto de aprendizagens que precisam ser garantidas”, afirmou Mônica Dias Pinto, chefe de Educação do UNICEF no Brasil, que mediou o painel.
Como promover acesso à educação e a permanência dos estudantes na escola
O segundo painel apresentou a Busca Ativa Escolar, estratégia desenvolvida pelo UNICEF e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) com o objetivo de contribuir com estados e municípios para encontrar quem está fora da escola. Trata-se de uma metodologia social e uma plataforma tecnológica gratuita, que apoiam municípios e estados no enfrentamento da exclusão escolar, bem como em risco de abandono escolar. A Busca Ativa Escolar já está presente em mais de 3,4 mil municípios brasileiros e 22 estados. A iniciativa já contribuiu com a (re)matrícula de mais de 167 mil meninas e meninos.
“Falar de busca ativa é falar de garantia de direitos. Em Bonito, escolhemos trabalhar não só com quem estava fora da escola, mas também com aqueles que não estavam frequentes. Por isso, trabalhamos de forma intersetorial e monitoramos quais vulnerabilidades estavam impedindo que o estudante estivesse na escola. Além de trazermos o estudante de volta, encaminhamos ele e a família para a rede de proteção. Os maiores problemas de educação não são gerados nas escolas, mas eles passam pelos muros delas”, disse Maria Elza da Silva, secretária municipal de Educação de Bonito (PE).
Além de estar na escola, é preciso aprender. Por isso, o UNICEF criou a Trajetórias de Sucesso Escolar, voltada para o enfrentamento da cultura de fracasso escolar no Brasil, por meio da mobilização e formação de gestores e apoio às redes educacionais para que desenvolvam ações específicas para os estudantes em situação de atraso escolar e/ou risco de abandono. A iniciativa está sendo implementada em oito estados brasileiros e Sergipe é um deles.
“Quando falamos de distorção idade-série, precisamos conhecer quem são esses meninos e essas meninas para, no retorno à escola, oferecer um currículo atrativo, que valorize as necessidades desses estudantes e que os ajude a avançar nas aprendizagens. Além disso, a escuta ativa e acolhedora é muito importante para conhecer a história de cada um. Tentamos construir uma escola que seja um ambiente de sonhos, no qual podemos partir das vivências e desejos dos estudantes e não impor o que queremos. Essa relação faz muito sucesso. Começamos o programa com 400 alunos matriculados no programa de distorção idade-série e hoje temos mais de 13 mil estudantes”, falou Roseane Santana, coordenadora do Colégio Estadual Ministro Petrônio Portela, em Sergipe, escola participante do ProSic – Programa Sergipe na Idade Certa.
Em seguida, Esther Guerra, estudante de pedagogia, 19 anos, contou sobre sua participação no projeto Passa a Visão. O projeto faz parte da #AgendaCidadeUNICEF, iniciativa do UNICEF para a prevenção de todas as formas de violência nos grandes centros urbanos e que, em São Paulo, é desenvolvida na Cidade Tiradentes.
Empresas, fundações e a educação para o futuro
Para o terceiro bloco, foi debatida a importância de o setor privado e fundações investirem e apoiarem a pauta de Educação. A atuação social dos institutos, fundações empresariais e, principalmente, das empresas pode estar mais alinhada às políticas públicas por meio de apoio à gestão pública em diversas frentes, por exemplo: investimentos na formação de professores, educadores e gestores escolares, apoio ao uso de novas tecnologias e materiais didáticos, apoio em infraestrutura, entre outras.
No debate estavam Elizabeth Mac Nicol, superintendente da B3 Social; Patrícia Guedes, superintende do Itaú Social; Daniely Gomiero, vice-presidente de Projetos do Instituto Claro; e Luis Serrao, gerente de Educação e Programas na Porticus.
*Fonte: UNICEF
* Foto: UNICEF/BRZ/Ricardo Reis