“Quando penso em ir à escola, me sinto alegre”
Sthefany Bianca recuperou a aprendizagem por meio do Programa Sergipe na Idade Certa, desenvolvido a partir da estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar em Aracaju
É segunda-feira de manhã, Sthefany Bianca Santos Araújo está sentada e concentrada na aula de língua portuguesa da Escola Estadual Dr. Jugurta Barreto de Lima, em Aracaju, Sergipe. “Quando eu cheguei à escola, eu tinha dificuldade com as palavras e dificuldade de escrever, mas ao longo do tempo fui evoluindo, por meio de ditados e textos”. Essa é uma grande conquista para a adolescente, que vinha de um histórico de atraso escolar e agora está conseguindo recuperar a aprendizagem e avançar por meio do programa Sergipe na Idade Certa, desenvolvido a partir da estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar, do UNICEF e parceiros, para o enfrentamento da cultura de fracasso escolar.
Atualmente, Sthefany, 13 anos, cursa o 4° ano, e conta que todo o processo foi difícil. “Eu não sabia muita coisa, mas a professora me ajudou, eu tinha muita dificuldade. Quando eu não vinha para a escola, era muito difícil. Meu pai estava doente e minha mãe tinha que dar conta de tudo sozinha”, conta a menina.
O Programa Sergipe na Idade Certa (ProSIC) contempla quatro fases de ensino separadas por turmas. Sthefany faz parte da segunda fase, que reúne estudantes do 4º e 5º anos do ensino fundamental com dois ou mais anos de atraso escolar. Com uma metodologia de ensino diferenciada, essas turmas possibilitam que os estudantes consigam aprender e avançar nos estudos, por meio de um acompanhamento permanente do fluxo escolar.
“Sthefany sempre foi uma menina interessada, ela apresentava dificuldades na leitura e na escrita, mas já conhecia as sílabas. Com o passar do tempo, ela foi se desenvolvendo e adquirindo novas habilidades. Começamos com a formação das sílabas e depois com a formação das palavras, fomos avançando para o ditado e construção de frases. Com esse avanço, conseguimos chegar à leitura de textos e hoje ela já lê com facilidade”, diz Aglae Mendonça Pereira Rodrigues, professora da Escola Estadual Dr. Jugurta Barreto de Lima.
Hoje, a adolescente auxilia a professora com os outros estudantes que têm mais dificuldade. “Eu tenho visto um progresso muito grande na Sthefany, ela está radiante, com os olhos brilhantes”, conta Aglae. “Poder ser mediadora nessa aprendizagem e colocar no coração e na mente de cada aluno que eles podem e conseguem avançar e que são capazes, independente da dificuldade que enfrentam, isso é muito gratificante”, relata a professora emocionada.
“Hoje, quando eu penso em ir à escola, me sinto alegre, porque vou encontrar meus amigos e professores. Eu adoro estudar e minha matéria preferida é português. Meu sonho é ser veterinária”, relata Sthefany.
Para a mãe da adolescente, Rosangela Reis, ver a filha retornar à escola e avançar nos estudos foi uma alegria. “Quando ela retornou à escola, eu a incentivada a estudar. No começo, ela só sabia o ABC e escrever meu nome, o nome dela e do pai. Hoje, ela já sabe fazer contas e ler. Um dia desses, ela chegou em casa e falou: mãe eu tenho três páginas para ler, eu achei isso incrível”.
Rede em prol da garantia de direitos
Sthefany ficou três anos fora da escola. Por meio de uma denúncia anônima, o Conselho Tutelar soube do problema e tomou providências para que ela retornasse à sala de aula. “Para mim foi duro o período que ela não frequentou a escola, todo mundo criticava. Nós recebemos uma denúncia via Conselho Tutelar, eles perguntaram o motivo dela não estar na escola, eu expliquei que meu marido teve derrame e ficou cadeirante, eu sou sozinha para cuidar de tudo. Por isso, nesse período, a Sthefany não frequentou a escola. Então, o conselho conseguiu uma vaga para ela”, conta a mãe emocionada.
“Meu sonho é que ela estude para ter um emprego bom. O que ela quiser ser, ela vai ser e vai ter meu apoio. Ela me dá muito orgulho”, conclui a mãe com os olhos brilhando.
Durante esse processo, a rede de proteção foi fundamental para assegurar que a Sthefany retornasse à escola. “A rede de proteção é muito importante, muitas vezes, devido às dificuldades financeiras, as crianças param de estudar para ajudar os pais e, por falta de entendimento da importância da educação, elas não conseguem dar continuidade nos estudos. E, com esse apoio, os estudantes frequentam mais a escola, faltam menos e conseguem se desenvolver”, diz a professora Aglae.
O site da estratégia disponibiliza materiais pedagógicos – com as experiências didáticas –, textos, vídeos e dados relativos às taxas de distorção, abandono escolar e reprovação, com recortes por gênero, raça e localidade, que mostram as relações entre o atraso escolar e as desigualdades brasileiras.
Para essa estratégia, o UNICEF conta com a parceria estratégica de Instituto Claro, Itaú Social, Porticus e B3 Social.
Fonte: UNICEF Brasil