72% da rede municipal usa programa para buscar quem perdeu aula na pandemia

Por Revista Galileu

23.07.2021
72% da rede municipal usa programa para buscar quem perdeu aula na pandemia

Unicef e Undime apresentam resultados de plataforma implantada em escolas públicas para rematricular estudantes que tiveram pouco ou nenhum contato com a escola

Segundo uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (22) pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), 71,8% das redes municipais de ensino brasileiras utilizam a plataforma Busca Ativa Escolar para ir atrás dos estudantes que tiveram pouco ou nenhum vínculo escolar durante a pandemia. Desenvolvida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Undime, a estratégia garante apoio aos governos para que crianças e adolescentes que não estão na escola sejam identificados, rematriculados e acompanhados para permanecer estudando.

Em janeiro deste ano, o próprio Unicef revelou que mais de 5,5 milhões de meninos e meninas não tiveram atividades escolares em 2020. O novo estudo da Undime, que também teve apoio do Unicef e do Itaú Social, buscou investigar avanços e desafios que as secretarias municipais de educação apresentaram em relação à transição dos anos letivos 2020-2021 e a estratégias adotadas ao longo deste ano, incluindo o planejamento para o segundo semestre. Foram ouvidas 3.355 redes municipais de ensino, o que corresponde a 60,2% do total de municípios brasileiros e a mais de 13 milhões de estudantes da educação pública no país.

A enorme maioria das redes de ensino continua realizando somente atividades remotas, número que chegou a 84,6% em meio à segunda onda da Covid-19 no país. Enquanto isso, 15,2% dos municípios representados na pesquisa tiveram atividades presenciais ou híbridas e outros 0,2% não realizaram nenhum tipo de atividade.

Em relação à reabertura das escolas, quase todas as redes já definiram um protocolo de segurança sanitária para o retorno presencial das aulas, o que é visto como positivo para o Unicef e para o Undime. Mas a implementação efetiva das medidas ainda causa preocupação: enquanto 57% já concluíram a construção do protocolo, em 40,4% das redes ela ainda está em andamento e 2,6% sequer a iniciaram.

Enquanto isso, junto a materiais impressos, as orientações pelo WhatsApp figuram entre os principais métodos utilizados por professores para as atividades remotas. Para o presidente da Undime, Luiz Miguel Martins Garcia, a alta presença da tecnologia pode ter sido impulsionada pelo fato de que alguns aplicativos e redes sociais permitem uso sem cobranças no pacote de dados de internet.

Mesmo assim, o acesso à conectividade continua sendo considerado uma das maiores dificuldades enfrentadas tanto pelos estudantes quanto pelos docentes. “É emergencial a implementação e ampliação do acesso à internet para alunos e professores”, afirmou Garcia na apresentação online da pesquisa da Undime. “E para os professores é ainda mais urgente, porque eles estão na origem da disseminação [das atividades]. Isso mostra o quão sonolentas estão as políticas públicas de oferta à conectividade”, complementou.

A representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer, defende a implementação de leis que garantam esse acesso. “A gente vê cada vez mais que, mesmo se amanhã a escola reabrisse totalmente, a conectividade ia continuar sendo absolutamente necessária. Ela nunca poderá substituir o ensino presencial, mas é complementar”, afirmou Bauer.

Além da busca ativa pelos estudantes afastados da escola, outra ação apontada como essencial pela maioria das redes municipais foi o suporte aos diretores pedagógicos. “Precisamos olhar com prioridade o suporte ao diretor escolar que, no dia a dia, vai ser a liderança que precisa articular o trabalho de uma equipe e acolher os professores”, mencionou Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, no evento.

Ela encara as orientações via WhatsApp e material impresso como uma carga intensa que os professores devem trabalhar junto a cada aluno e cada família, o que gera demandas sobre o superior pedagógico da escola. “Tudo isso já está chegando ao diretor escolar, mas com a reabertura vai se intensificar, assim como a necessidade de pensar estratégias para recuperar as lacunas de aprendizagem e acelerá-las também”, disse Guedes.

Considerando os efeitos da pandemia sobre a educação de meninos e meninas, o Unicef defende a urgente reabertura das escolas em formato híbrido, em que se mesclam atividades presenciais e remotas. “Há disputas e discussões sobre as diferentes responsabilidades, mas neste momento é importante reconhecer que as crianças e adolescentes são as grandes vítimas dessa situação de fechamento das escolas”, defendeu Florence Bauer. “É hora de unir esforços, com cada nível do governo — federal, estadual, municipal — priorizando o tema e buscando ajuda mútua.”

 

Fonte: Revista Galileu
Foto: Igor Santos/Secom
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