Busca Ativa Escolar e Busão da Alfabetização chegam à zona rural

Por UNICEF Brasil

04.07.2022
Busca Ativa Escolar e Busão da Alfabetização chegam à zona rural

Na pandemia, educadora que participa da Busca Ativa Escolar em Cacoal, Rondônia, conseguiu um ônibus para visitar estudantes e não deixar ninguém para trás


Mais do que conhecimento, levar esperança de ter uma vida digna e a garantia de direitos para crianças e adolescentes da zona rural do município de Cacoal, interior de Rondônia. Essa é a missão da professora Edilaine Sesquin Ventura, que leciona há 13 anos no município e faz parte da equipe da Busca Ativa Escolar. Ela atua como agente da busca ativa, indo de casa em casa para identificar estudantes que não estão frequentando a escola e alertar a equipe do município. Na pandemia, Edilaine encontrou uma forma inusitada de ir atrás de cada menina e menino da zona rural e garantir que ninguém ficasse sem se alfabetizar e ter seus direitos garantidos.

Lecionando para uma turma do 3º ano do ensino fundamental, Edilaine viu a pandemia afetar a rotina e o aprendizado dos estudantes. Em 2021, a escola começou a trabalhar com apostilas, aulas pelos aplicativos de mensagens e videoaulas, mas logo a professora percebeu a grande dificuldade que seus estudantes enfrentavam para ter acesso à internet e, consequentemente, ao ensino com qualidade. Graças à estratégia Busca Ativa Escolar que já era uma realidade no município, a educadora conseguiu garantir que os estudantes mantivessem o vínculo com a escola, mas percebeu que, longe da sala de aula, muitos estavam com dificuldades de aprender.

Foi quando surgiu a ideia de criar um “Busão da Alfabetização”, indo de casa em casa, na zona rural, visitar os estudantes. “A escola onde eu trabalho já tem a prática de visitar os alunos. Faço parte da equipe da Busca Ativa Escolar e, quando percebi que meus alunos estavam com muitas dificuldades para entregar as atividades, eu dialoguei com a direção e solicitei um ônibus para ir visitá-los”, explica Edilaine.

As visitas, que tinham o objetivo inicialmente de ser um reforço escolar, acabaram se transformando em um projeto de incentivo à educação e auxílio aos estudantes e suas famílias. Aos poucos, o que antes era apenas um ônibus escolar comum se transformou em uma verdadeira sala de aula itinerante, recheada de conhecimentos, mas principalmente de amor à educação e dedicação às meninas e aos meninos da comunidade. “Na época, essas crianças apresentavam dificuldades para buscar as apostilas, pois moram em locais de difícil acesso e algumas não têm internet”, relata a professora, explicando as causas da exclusão.



De longe, ao longo da estrada de terra, é possível identificar o ônibus escolar diferenciado: uma faixa vermelha fixada na lateral, com o nome “Busão da Alfabetização”, e balões coloridos pendurados nas janelas dão o tom da alegria de levar educação com criatividade para meninas e meninos. No interior do Busão é onde acontecem a magia e o encantamento de uma sala de aula que são levados pela educadora . Os assentos se tornam as cadeiras da sala de aula, o fundo do ônibus serve de suporte para o quadro branco, e o painel do motorista e as janelas se transformam em uma sala de aula exemplar, com letras e números. Em toda parte, é possível encontrar ferramentas para trabalhar o conhecimento de forma lúdica, como pincéis, lápis e papéis coloridos, bem como personagens e brinquedos, para as crianças aprenderem brincando.

Com essa iniciativa, o projeto ganhou outras dimensões. A partir do contato mais próximo com estudantes e familiares, a professora constatou a complexidade que envolve meninos e meninas para que deixem de fazer as atividades escolares, levando ao abandono ou à evasão escolar. “Quem sai da escola é aquele aluno que apresenta dificuldades para aprender, ou que tem dificuldade para ir até a escola buscar atividades, que a família não possui internet, por exemplo”, pondera a professora.


Vidas transformadas
A educadora sabe que uma visita apenas não resolve o problema, mas é a partir desse momento de atenção do contato direto e próximo às famílias que a equipe da Busca Ativa Escolar pode desenvolver ação intersetorial, com as áreas de saúde e de assistência social, acionando serviços para garantir que os estudantes tenham seu direito à educação efetivado, bem como o acesso a outros direitos que contribuem para o acesso e permanência na escola.

“Em nossa primeira visita, vimos que além da dificuldade que a família estava em ajudar o filho nas atividades escolares, a mãe precisava com urgência de uma consulta médica. Mesmo essa ação sendo "fora" da competência da escola, mas devido à ação em conjunto com outros serviços, prontamente acionamos a equipe de saúde, que procurou dar assistência à mãe do nosso aluno. Em outras atividades, o setor de assistência social também entrou em ação”, relata Edilaine.

A professora relembra que o projeto do Busão está diretamente interligado ao Selo UNICEF, tanto devido à campanha Fora da Escola Não Pode!, como porque conta constantemente com o trabalho intersetorial para atender às necessidades de crianças e adolescentes que são alcançados por essa iniciativa. Vale lembrar que a Busca Ativa Escolar tem como foco apoiar na identificação, no registro, no controle e no acompanhamento de crianças e adolescentes que estão fora da escola ou em risco de evasão escolar e no fortalecimento da rede de proteção, composta por vários representantes, como da educação, saúde, assistência social, entre outros setores, visando garantir os direitos de meninas e meninos.

O sucesso do Busão da Alfabetização, atrelado à paixão pela profissão que abraçou, move e contagia todos ao seu redor. Atualmente, a prefeitura de Cacoal, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed), deseja expandir o projeto para outras áreas e instituições por acreditar na importância e nos benefícios produzidos pela iniciativa.

Enquanto isso, Edilaine continua desenvolvendo o seu trabalho na certeza do impacto positivo que causa na vida de meninas e meninos. “Quando o ônibus chega às comunidades, ele não leva só conhecimentos pedagógicos. A gente sempre leva um brinquedo, um doce, um picolé, então a família espera pela gente. É aquela felicidade. E é muito gratificante você chegar e ser recepcionado muito bem pela família”, finalizou a professora, que se mostra feliz e satisfeita com o resultado do projeto inovador.


Fonte: UNICEF Brasil