Aulas presenciais voltaram na grande maioria das escolas municipais e redes começam a investir na recuperação da aprendizagem, revela pesquisa
Realizada pela Undime, com apoio do UNICEF e Itaú Social, pesquisa ouviu 3.372 municípios brasileiros, representando mais de 22,8 milhões de matrículas
Após dois anos de pandemia, mais de 80% das redes municipais de educação estão com aulas totalmente presenciais e mais de 90% oferecem atividades presenciais cinco vezes por semana. É o que revela a sétima onda da pesquisa realizada pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Itaú Social. O desafio, agora, é encontrar quem não voltou para a escola e investir em esforços para recompor/recuperar aprendizagens.
Ouvindo 3.372 Secretarias Municipais de Educação, a pesquisa mostrou que a grande maioria das redes respondentes está ofertando educação totalmente presencial nas diferentes etapas de ensino, com adesão total ou quase total dos estudantes. O estudo mostra, também, que 78% das redes estão utilizando a Busca Ativa Escolar e a grande maioria está adotando medidas para a recomposição e recuperação da aprendizagem. A pesquisa destaca, ainda, que a vacinação de crianças e adolescentes contra a covid-19 tem sido incentivada, e que a ausência do cartão de vacinação não está impedindo a frequência escolar.
As avaliações diagnósticas têm sido o principal meio de diagnóstico de defasagens de aprendizagem: 60% das redes estão aplicando avaliações em todas as escolas e 33% fazem esse diagnóstico por meio de avaliações que as próprias escolas elaboram.
O presidente da Undime, Luiz Miguel Martins Garcia, dirigente municipal de Educação de Sud Mennucci (SP), explica que, durante o período em que não foi possível realizar aulas presenciais, muitos conteúdos foram trabalhados de maneira aligeirada, devendo ser recuperados e ampliados até atingir o nível de qualidade esperado. Somado a isso, há, ainda, o processo de recomposição de aprendizagens, que implica transmitir aquilo que pôde ser desenvolvido e que deverá ser integrado ao currículo, garantindo o que consta na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e no currículo municipal, como direito de aprendizagem dos alunos.
"É muito importante que, tanto no processo de recomposição quanto no de recuperação, nós tenhamos consciência de que se trata de intensificar e fortalecer as aprendizagens. Aquilo que durante o período mais crítico nós tivemos de fazer da forma como foi possível, mas com a certeza de que ficaram lacunas. Que seja uma intensificação e fortalecimento do processo ensino-aprendizagem nas escolas", explica.
Questionadas sobre como estão organizando a recomposição e a recuperação de aprendizagem, 69% das redes disseram que realizam, ou vão realizar, atividades dentro do turno escolar; e 54% têm, ou terão, atividades presenciais no contraturno escolar.
As principais dificuldades de implementação de estratégias de recomposição e recuperação da aprendizagem estão relacionadas ao contraturno escolar, incluindo acesso à Internet para estudantes e professores, transporte e alimentação.
"A recuperação das aprendizagens exige um olhar sistêmico, com o propósito de reduzir as desigualdades ainda mais aprofundadas durante a pandemia. A educação é uma tarefa de toda a sociedade e é importante que outras secretarias dos municípios, como as de saúde e assistência social, se unam no propósito de não deixar nenhum estudante para trás. Além disso, atividades de contraturno, por exemplo, podem ser articuladas com as organizações da sociedade civil dos territórios. O desenvolvimento integral das crianças e dos adolescentes só tem a ganhar com a articulação intersetorial", considera a superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann.
Busca Ativa Escolar
A pesquisa aponta que o apoio aos diretores, a busca ativa e a realização de avaliações diagnósticas serão as principais ações para apoiar as escolas na oferta do ensino este ano. A estratégia Busca Ativa Escolar é apontada por 78% das secretarias como principal método para encontrar estudantes que não têm acompanhado as atividades escolares remotas ou não retornaram para as atividades presenciais em 2022, ou que estão em risco de evadir.
"Mesmo antes da pandemia, milhões de crianças e adolescentes mais vulneráveis estavam sendo deixados para trás. Neste momento em que o País está retomando as aulas presenciais, não podemos apenas voltar ao ‘normal’. Precisamos de um novo normal: com cada criança e adolescente na sala de aula, com diagnósticos precisos das aprendizagens de cada um e apoio intensivo para superar barreiras e retomar a aprendizagem. Para isso, é essencial que educadores e escolas recebam cada criança e adolescente com uma atenção especial para facilitar a sua retomada da aprendizagem, e que professores tenham o apoio de que precisam para isso, com formação e recursos", defende Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.
Entre as estratégias realizadas pelas secretarias municipais para monitorar a aprendizagem dos estudantes em 2022, destacam-se como principais: conversas regulares com diretores e coordenadores pedagógicos, e apoio às escolas para análises e diagnósticos a partir de avaliações internas.
Perguntados, 63% dos respondentes acreditam que há uma boa aceitação dos pais e responsáveis e procura pela vacinação infantil, enquanto 20% afirmam que há certa resistência e baixa procura pela imunização.
O cartão de vacinação das crianças será exigido nas escolas de 1.248 municípios (37% do total pesquisado). A ausência do cartão, no entanto, não impedirá o acesso do estudante à escola: 37% das redes que vão exigir o cartão disseram que a falta dele não impedirá a frequência dos estudantes e 47% disseram que, apesar de não impedir a frequência, o Conselho Tutelar será comunicado.
Quando se trata dos profissionais de educação, 1.888 redes (56% do total pesquisado) vão pedir a apresentação do comprovante de vacinação contra a covid-19. Entre as redes que pedem o cartão, 50% afirmam que os profissionais não vacinados ou com vacinação incompleta serão orientados sobre a importância da imunização; e 38% informam que o cartão está sendo/será pedido a título de monitoramento. Além disso, 58% disseram que vão promover campanhas de sensibilização para a vacinação contra a covid-19.
Questionadas sobre como o protocolo de segurança sanitária prevê lidar com casos de covid-19 nas escolas municipais, 76% das redes preveem apenas o isolamento do estudante ou servidor que apresentar sintomas, sem fechar a escola; 15% preveem o isolamento de toda a turma do estudante ou servidor que apresentar sintomas; e 4% preveem isolamento de toda a escola em caso de sintomas de covid-19.
Em relação ao processo de vacinação, 42% das secretarias estão acompanhando o processo na Secretaria Municipal de Saúde e 27% disseram que o governo do município vai organizar campanha de sensibilização para aumentar o número de vacinados.
Acesse o relatório final da pesquisa.
Fonte: UNICEF Brasil